quinta-feira, 9 de junho de 2011

Onfray e o feminino

        Optei por colocar, no título, o termo feminino e não feminismo dado o desgaste e a multiplicidade de concepções e usos deste último. Ao desenvolver a proposta da erótica solar, Onfray mostra o quanto a questão feminina precisa ser revista ainda hoje. Os modelos e padrões de relacionamento ainda se assentam numa visão diminuidora da mulher e de seu erotismo. O autor lembra q a qualificação de Don Juan para os homens é positiva, mas uma mulher q resolva encarnar um papel semelhante, que resolva basear suas relações no erotismo, na maioria das vezes, é tratada de forma negativa pelos homens e, até, pelas próprias mulheres.
    O feminismo q se desenvolveu na sociedade ocidental na segunda metade do século passado trouxe para as relações e para a cama uma resposta sexista incorporando, no terreno erótico, a luta de classes. É claro q daí só poderiam surgir relações neuróticas carregadas de transferências negativas.
     A libertinagem erótica, tratada como pecado pelo cristianismo  e vista como imoral pela sociedade de capital e produção, apropriadora da força vital de cada um de nós, precisa ser reconsiderada em outros termos. Precisa ser resgatada naquilo q tem de mais lindo q é a expressão da vida: um ser pleno de vida é um ser em que o erotismo está no corpo, nas palavras,  no cotidiano... Porém chegamos em casa extenuados de trabalhar, estressados com o ritmo q nos é imposto, formatados por modelos de comportamento com os quais a mídia nos bombardeia... como ser erótico ao fim do expediente? Então tenta-se calar esse grito do corpo/da alma com a bebida ou outra droga qqr, nem q seja a novela.
      Nesse cenário, o feminino, já massacrado na composição tradiconal da fmailia ocidental cristã, é, agora também, massacrado pela sociedade de produção e de consumo. O corpo feminino, antes sede do pecado, agora é mais uma máquina no sistema produtivo. Ser erótico e leve é mandar à merda tudo isso. Daí o caráter revolucionário da proposta. E o mais interessante é q a coisa comece pela mulher porque daí todo o edifício q se construiu sobre a negação de seu erotismo vem abaixo (familia, sociedade, trabalho, casamento...). A mulher morre na esposa e na mãe e, agora também, na profissional bem sucedida (quando isso é visto como sucesso dentro do esquema produtivo). Sua energia é consumida e o erotismo tem q ser enquadrado no esquema apolíneo quando ele é, por natureza, dionisíaco.

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