Considerações de Nietzsche a respeito do pensamento de Parmênides
Em seu ‘A Filosofia na Época Trágica dos Gregos’, Nietzsche compara as propostas de Heráclito e de Parmênides, afirmando que, enquanto o primeiro exprime-se a partir da verdade apreendida na intuição (daquele tipo que conhece, mas não calcula), o segundo apresenta-se como um profeta da verdade formado pelo frio e penetrante gelo da lógica.
A abstração desenvolvida por Parmênides separa, no entender de Nietzsche, o pensamento pré-socrático numa época anaximândrica e noutra parmenídica. Entretanto, não é possível negar que suas suspeitas em relação á separação entre o mundo que é e o mundo que vem a ser mostram-no como herdeiro das proposições de Anaximandro.
Numa tentativa de ordenamento do mundo, Parmênides comparava as qualidades das coisas e as ordenava em duas classes, positiva e negativa. Para Nietzsche, este tipo de método lógico revela resistência às insinuações dos sentidos e produz uma visão dicotômica do mundo empírico, cindido em duas esferas – uma das qualidades positivas, outra das qualidades negativas. Esta última, a esfera da falta, da ausência, com características passivas e femininas. Em lugar de nomear tais esferas como positiva e negativa, denominava-as de esferas do ‘ser’ e do ‘não-ser’, contrariando, assim, Anaximandro ao postular que o mundo tema algo de ‘ser’ e também de ‘não-ser’.
Esta postulação última dá a Parmênides a possibilidade de explicar o vir-a-ser. Segundo Nietzsche, “Parmênides vê, como Heráclito, o vir-a-ser e o não-permanecer universais, mas apenas pode interpretar um perecer de tal maneira que nele o não-ser precise ter uma culpa. Pois como podia o ser ter culpa do perecer! Entretanto, o nascer precisa igualmente realizar-se pelo auxilio do não-ser: pois o ser está sempre presente e não poderia, por si mesmo, nascer nem explicar nenhum nascer. Assim, tanto o nascer como o perecer são produzidos pelas qualidades negativas... “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser; se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.”
Esses contrários, em lugar de se repelirem, atraem-se em razão de qualitas occulta, denominada por Parmênides com o nome de Afrodite, cujo poder é o de conseguir ligar os contrários, o ‘ser’ e o ‘não-ser’. O conflito interno, após a satisfação do desejo, levará à separação e a então, “a coisa perece”.
Nietzsche assinala que Parmênides percebe seu pecado lógico ao refletir sobre o conceito de qualidade negativa, perguntando-se se algo que não é, pode ser uma qualidade. Aplicando à sua reflexão o raciocínio tautológico A=A, conclui que “O que não é, não é! O que é, é!”. Ele (Parmênides) havia estado em pecado lógico como a maioria das pessoas. Desse raciocínio, Parmênides chega à proposição da Unidade eterna.
Essa idéia de uma unidade eterna, de um ser limitado, imóvel, em equilíbrio, em todos os pontos igualmente perfeito como uma esfera, sustenta uma noção de do vir-a-ser como ilusório. Aquilo que é está num presente eterno, dele não se pode dizer que foi ou que será, pois de onde viria? Do não-ser não pode porque o não-ser não gera nada, de si mesmo seria um replicar-se... Para Nietzsche, Parmênides reconhece aí que antes, ao discutir as qualidades positivas e negativas, estava sendo enganado por seus próprios olhos: “Não siga os olhos estúpidos, não siga o ouvido ruidoso ou a língua, mas examine tudo somente com a força do pensamento.” E, com essa crítica do aparelho do conhecimento, com suas conseqüências funestas, “...separa os sentidos e a capacidade de pensar abstrações, a razão, como se fossem duas faculdades inteiramente distintas, desintegrou o próprio intelecto e animou aquela divisão completamente errônea entre corpo e espírito que, especialmente desde Platão, pés sobre a filosofia como uma maldição” (NIETZSCHE, grifo nosso).Dessa forma, todas as percepções dos sentidos, porque resultam em ilusões apenas, foram postas de lado. Não há o que aprender, portanto, com a investigação dos fenômenos da natureza.
Em seu ‘A Filosofia na Época Trágica dos Gregos’, Nietzsche compara as propostas de Heráclito e de Parmênides, afirmando que, enquanto o primeiro exprime-se a partir da verdade apreendida na intuição (daquele tipo que conhece, mas não calcula), o segundo apresenta-se como um profeta da verdade formado pelo frio e penetrante gelo da lógica.
A abstração desenvolvida por Parmênides separa, no entender de Nietzsche, o pensamento pré-socrático numa época anaximândrica e noutra parmenídica. Entretanto, não é possível negar que suas suspeitas em relação á separação entre o mundo que é e o mundo que vem a ser mostram-no como herdeiro das proposições de Anaximandro.
Numa tentativa de ordenamento do mundo, Parmênides comparava as qualidades das coisas e as ordenava em duas classes, positiva e negativa. Para Nietzsche, este tipo de método lógico revela resistência às insinuações dos sentidos e produz uma visão dicotômica do mundo empírico, cindido em duas esferas – uma das qualidades positivas, outra das qualidades negativas. Esta última, a esfera da falta, da ausência, com características passivas e femininas. Em lugar de nomear tais esferas como positiva e negativa, denominava-as de esferas do ‘ser’ e do ‘não-ser’, contrariando, assim, Anaximandro ao postular que o mundo tema algo de ‘ser’ e também de ‘não-ser’.
Esta postulação última dá a Parmênides a possibilidade de explicar o vir-a-ser. Segundo Nietzsche, “Parmênides vê, como Heráclito, o vir-a-ser e o não-permanecer universais, mas apenas pode interpretar um perecer de tal maneira que nele o não-ser precise ter uma culpa. Pois como podia o ser ter culpa do perecer! Entretanto, o nascer precisa igualmente realizar-se pelo auxilio do não-ser: pois o ser está sempre presente e não poderia, por si mesmo, nascer nem explicar nenhum nascer. Assim, tanto o nascer como o perecer são produzidos pelas qualidades negativas... “Ao vir-a-ser é necessário tanto o ser quanto o não-ser; se eles agem conjuntamente, então resulta um vir-a-ser”.”
Esses contrários, em lugar de se repelirem, atraem-se em razão de qualitas occulta, denominada por Parmênides com o nome de Afrodite, cujo poder é o de conseguir ligar os contrários, o ‘ser’ e o ‘não-ser’. O conflito interno, após a satisfação do desejo, levará à separação e a então, “a coisa perece”.
Nietzsche assinala que Parmênides percebe seu pecado lógico ao refletir sobre o conceito de qualidade negativa, perguntando-se se algo que não é, pode ser uma qualidade. Aplicando à sua reflexão o raciocínio tautológico A=A, conclui que “O que não é, não é! O que é, é!”. Ele (Parmênides) havia estado em pecado lógico como a maioria das pessoas. Desse raciocínio, Parmênides chega à proposição da Unidade eterna.
Essa idéia de uma unidade eterna, de um ser limitado, imóvel, em equilíbrio, em todos os pontos igualmente perfeito como uma esfera, sustenta uma noção de do vir-a-ser como ilusório. Aquilo que é está num presente eterno, dele não se pode dizer que foi ou que será, pois de onde viria? Do não-ser não pode porque o não-ser não gera nada, de si mesmo seria um replicar-se... Para Nietzsche, Parmênides reconhece aí que antes, ao discutir as qualidades positivas e negativas, estava sendo enganado por seus próprios olhos: “Não siga os olhos estúpidos, não siga o ouvido ruidoso ou a língua, mas examine tudo somente com a força do pensamento.” E, com essa crítica do aparelho do conhecimento, com suas conseqüências funestas, “...separa os sentidos e a capacidade de pensar abstrações, a razão, como se fossem duas faculdades inteiramente distintas, desintegrou o próprio intelecto e animou aquela divisão completamente errônea entre corpo e espírito que, especialmente desde Platão, pés sobre a filosofia como uma maldição” (NIETZSCHE, grifo nosso).Dessa forma, todas as percepções dos sentidos, porque resultam em ilusões apenas, foram postas de lado. Não há o que aprender, portanto, com a investigação dos fenômenos da natureza.
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