terça-feira, 25 de agosto de 2009

XENÓFANES

A Escola Eleática trata o devir como aparência assumindo a substância como princípio metafísico. Para a escola eleática, a substância não é vista como elemento corpóreo (como para os filósofos de Mileto) ou um número (como para os pitagóricos), mas “...como substância, como permanência e necessidade do ser enquanto ser” (ABBAGNO, 1976, p.43).
Para eles, a substância é o ser que é e deve ser: é o ser na sua unidade e imutabilidade, que faz dele o único objeto de pensamento, o único termo da pesquisa filosófica. Ele pressupõe indubitavelmente a pesquisa cosmológica dos jônicos e dos pitagóricos, mas subtrai-a ao seu pressuposto naturalista e trá-la pela primeira vez ao plano ontológico em que deveriam enraizar-se os sistemas de Platão e de Aristóteles.”(ABBAGNO, 1976, p.43)
O eleatismo iniciou-se com Xenófanes, o primeiro a afirmar a unidade do ser. Além disso, criticou também o antropomorfismo religioso dos gregos. Para ele, a divindade identifica-se com o universo, um deus-tudo eterno. Em fragmento de sua Física, Simplício registra que “Teofrasto diz que Xenófanes de Cólofon, mestre de Parmênides, supôs que o princípio era um só ou que a totalidade do que existe era uma (nem limitada, nem ilimitada, nem em movimento, nem em repouso)”.
Fragmentos do próprio Xenófanes evidenciam sua concepção de Deus:
“Existe um só deus, o maior dentre os deuses e os homens, em nada semelhante aos mortais quer no corpo, quer no pensamento.”
“Todo inteiro vê, todo inteiro entende, todo inteiro ouve.”
“Permanece sempre imóvel no mesmo lugar; e não lhe convém mover-se de um lugar para outro.”
Este último fragmento, segundo Hegel (1973), permite observar um mudança na concepção filosófica de movimento que, a partir de Xenófanes, deixa de ser um movimento objetivo (como um surgir e desaparecer na filosófica física) e passa a ser encarado como subjetivo, sensível, aparente, fruto das percepções dos sentidos, posto que a essência em si é imóvel.
Hegel (1973) reconhece, ainda, que, com a escola eleática, o pensamento é, pela primeira vez, tomado em sua essência, como busca de conceitualização, como origem e destino abstrato das coisas: “O pensamento está assim, na escola eleática propriamente e pela primeira vez, manifestado livre para si”.
Deus, para Xenófanes, não nasce, não se modifica e não morre, é eterno. Eterno é, entretanto, uma palavra problemática, pois nossa tendência é pensarmos em uma extensão temporal infinita. Porém, o termo aídion/eterno corresponde àquilo que é igual a si mesmo, sempre presente, atemporal.
Se a essência é concebida como imóvel e eterna, o devir, a mudança, o movimento é resultado da percepção subjetiva e, portanto, deve integrar o terreno da opinião: “A mudança, eliminada da essência, e a multiplicidade passaram para o outro lado, para a consciência, para alguém que opina” (Hegel 1973).
É difícil pensar em Xenófanes como fundador da Escola de Eléia já que, por seus próprios testemunhos, levou uma vida andarilha e errante. E embora ele e Parmênides partam de uma mesma orientação filosófica a respeito de deus, reduzindo a realidade ao UNO e a o SER, suas concepções de uno e de ser mostram-se bastante diferenciadas. Assim, considera-se Parmênides como o fundador do eleatismo.

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