terça-feira, 18 de agosto de 2009

OS ATOMISTAS – Leucipo e Demócrito.


Mestre e discípulo, respectivamente, Leucipo e Demócrito incluíram na teoria atomista o não-ser através do conceito de vazio.
            Para a escola atomista, o universo é constituído por átomos e por vazio. Os primeiros, imutáveis, indestrutíveis, compactos, infinitos em espécie e dotados de movimento próprio. As coisas vêm a existir em razão da agregação dessas partículas. Portanto, as coisas não surgem do nada, mas da agregação de partículas. Em trecho da Física de Simplício, encontramos a seguinte afirmação: “...Além disso, ele sustentava que o não-ser existe assim como o ser, e os dois são igualmente as causas de as coisas nascerem. Ele supunha que a natureza dos átomos era compacta e cheia; isso, dizia ele, era ser, e movia-se no vazio, a que ele chamava não-ser e sustentava que existia em não menor grau que o ser” (SIMPLÍCIO, FÍSICA, 28, KR, p.415).
            Os átomos, na sua infinidade de números e formas, formam a realidade (realidade = conceito/forma). Entretanto, aquilo  que não é (o não-ser, o vazio) também é real, também existe (VAZIO ≠ NADA). A existência do espaço vazio era necessária para que os átomos pudessem nele se mover. Nesse espaço vazio e infinito, os átomos, infinitos em numero e forma, movem-se em todas as direções, chocam-se, agregam-se, produzindo misturas e combinações.
            A proposta atomista de Leucipo e Demócrito é, em certa medida, uma resposta e uma continuidade à proposta eleata. Reale (1993, 153) lembra que, na proposta atomista, os átomos aproximam-se da proposta eleata porque são tomados como qualitativamente indiferenciados e geometricamente diferentes, mantendo a igualdade do ser, mesmo que o Uno seja, no atomismo, fragmentado holograficamente em infinitos seres-unos. Leucipo reverte contra o eleatismo um dos argumentos de Melisso – o pluralismo original –, tornando-o  base de seu sistema. Pluralismo que não é fruto da experiência dos sentidos, mas fundamento e razão de ser do múltiplo perceptível, um múltiplo anterior.
            Santos (2001, p. 117) lembra que “Na ordenação do cosmo ficam descartados aqueles elementos ligados a um principio divino ou que tivessem suas prerrogativas  tradicionais de conhecimento, poder e governo de todas s coisas, bem como a abertura para uma possível interpretação finalista ou teleológica”.  Alguns filósofos posteriores, dentre eles Platão, mostraram-se resistentes a esta visão natural, dado que não aceitavam que algo não poderia existir sem a ação ou desígnio de uma entidade, um deus, um logos.
            Para os atomistas, um átomo se diferencia do outro não pela essência, que é a mesma para todos, mas pela sua forma geométrica, sua ordem e sua posição. Por ser invisível, inacessível aos sentidos, é representado como idéia (forma). Para Demócrito um átomo era uma idéia, uma forma, pois, na Grécia de sua época, o termo idéia era usado para aquilo que se vê, visível à inteligência. Diferente, portanto, da acepção subjetivista e imaterial que Platão, mais tarde, daria ao termo. “Λτομος ιδέα é a primeira afirmação da individualidade, da substancialidade do ser individual, na filosofia grega: nisso está a grandeza de Demócrito” (Reale, 1993, 155-156).
            O movimento original surge, na formação do cosmo, em conseqüência da ação do vórtice no movimento rotatório. Esse movimento leva os átomos a chocarem-se entre si, expulsa para a camada mais externa os átomos mais leves e mantém no centro os átomos mais pesados. Assim, no centro, é formada a Terra e, na periferia, os corpos ígneos, os demais astros. Não há, no atomismo de Leucipo e Demócrito, uma causa anterior diferenciada, particular, como o Amor e o Ódio em Empédocles, ou a Inteligência em Anaxágoras, mas o movimento dos átomos é derivado de seu próprio movimento em razão de sua natureza. O movimento é a natureza do átomo.
            Há, ainda, na teoria atomista a defesa de que o corpo e a alma são da mesma natureza. “Mesmo que os átomos da alma tenham uma forma mais perfeita, os átomos do corpo e da alma são qualitativamente sempre iguais a todos os outros átomos. Os átomos da alma distinguem-se dos outros apenas por serem mais puros, mais sutis, mais ígneos, muito lisos, mais móveis, mais voláteis e redondos. Esses estão espalhados por todo o corpo, são responsáveis pelo seu movimento, pela vida e pelo pensamento. Em virtude da expiração eles tendem a deixar o corpo, mas são logo reintegrados pela inspiração, assegurando a continuidade do copo vivo. Por isso, a morte coincide com o fim da respiração, com a perda de um número maior desses átomos que, dispersando-se e não havendo a necessária reposição, provoca o desequilíbrio” (SANTOS, 2001, p. 120).
            A proposta atomista para a percepção explica que dos corpos emanam eflúvios dos átomos que os constituem e estes, ao atravessarem os poros dos sentidos, produzem a sensação e o conhecimento. Mais surpreendente é que os atomistas defendem que, em razão de mantermos contato  apenas com a aparência das coisas, formamos opiniões que podem estar erradas, pois a  percepção das qualidades das coisas não é algo objetivo, mas apenas uma convenção entre indivíduos (“Que o mel é doce não ouso afirmar, mas que parece doce eu afirmo”). Há uma clara antecipação das propostas da Gestalt."Opinão (é) o doce, opinião o amargo, opinião o quente, opinião o frio, opinião a cor; verdade, os átomos e o vazio" Demócrito.

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